quinta-feira, 10 de março de 2011

do sonho bom

Para Talita Stael.

-

Sonho é destino.

Os preparativos haviam começado meses antes, cerca de 6 ou 7, não lembro bem. Seria uma van ou um ônibus, mas ela não sabia ao certo. Ainda pensou em tentar achar carona, pois em 1993 viajar entre estados diferentes era caro e os pais não podiam disponibilizar dinheiro pra certas regalias, além de estarem amarrados em aceitar a idéia. Era a mais velha, mas mesmo assim havia resistência. O suficiente era o necessário e vice-versa. Como não podia pagar pra ir, tinha de conseguir quem pagasse, seria o show da sua vida! Assim entendeu que poderia ela mesma organizar uma caravana. Até que começou-se a divulgação. A internet mal existia, então tinha de divulgar nas rádios e com cartazes nas universidades. Conseguiu um amigo para bolar os cartazes e este foi quem a ajudou a divulgar. Não tardou para aparecerem os primeiros interessados. Parecia até que era show do Orlando Silva e todo o fã-clube Sinatra Farney* estava querendo ir. As ligações pro telefone da casa estavam cada vez mais frequentes: o preço da caravana era bom e cada um tinha de se responsabilizar pelo seu ingresso. Houveram relatos de pessoas que viajaram só para comprar os ingressos. Então passaram-se os meses e os dias, e nunca um LP foi tão findado pela agulha de uma vitrola como aqueles que residiam à rua Raimundo Marques Por Deus. Uma semana antes do show estava tudo pronto: após algumas desistências, o veículo foi fechado com 15 pessoas, sendo 14 pagantes. A rádio local tinha feito um convênio com a Rádio Recife**, na qual 5 fãs poderiam conhecer os seus ídolos se participassem com depoimentos e crônicas relacionadas ao grupo. Após algumas perguntas respondidas na rádio, uma semana depois estava ela sendo entrevistada por um estagiário da assessoria de imprensa da empresa que estava produzindo o show. Contou suas estórias relacionadas à banda e como havia se tornado tão íntima daquele rock alternativo que misturava uns metais e algumas letras românticas ao som que produziam. Pode-se dizer que ela ajudou mesmo a mídia. Segundo disseram, essas informações sairiam num jornal local, que tratava exclusivamente de artistas, fofocas e afins. Acertou com a empresa caseira que fazia transportes e com a padaria do bairro pra que fizessem alguns salgados, como aqueles que costumava comprar com sua avó. Então a semana chegou. O show seria na sexta-feira, dia 15 de Outubro de 1993. E como dizem por aí que tem sempre um telefonema que muda sua vida, assim aconteceu. Na quinta ligaram à tardinha da empresa lá do Recife, procurando por ela. Deram um endereço e uma promessa de camisa-de-camarote-vip, e disseram ainda que às 23 horas ela deveria estar na escada que levava ao camarote, a fim de evitar um arrependimento pro resto da vida. 'Só pode ser pra conhecê-los!' pensou. Ao desligar o telefone, um desatino de alegria surgiu na mente e passou pro coração e pro rosto, fazendo com que aquele acelerasse e com que este colocasse um sorriso de orelha-a-orelha. Colocou o LP que mais gostava na bagagem. Tinha marcado de encontrar os viajantes num ponto turístico da cidade. Como de praxe, saíram atrasados. Antes disso ela ainda conseguiu rasgar a calça que vestia, mas nessas horas as atrasadas a salvaram levando uma calça de casa. Após o sorteio de dois LP's (brinde da caravana), partiram viagem. O motorista se chamava Sérgio. Foram salgados variados que todos comeram na parada em um dos postos de gasolina do trajeto. Uma das pessoas que estava na caravana era seu ex-namorado. Incrivelmente se deram bem, sem corações palpitando ou sem desconforto. Chegaram exatamente às 18hrs na cidade. Antes, claro, passaram pra pegar a camisa da sorte na base operacional da empresa produtora do evento. Seria um evento grande. Chegaram ao Centro de Convenções de Olinda às 19 horas. Foi uma longa espera. Às 22 horas se dirigiu à escada, ela era daquele tipo apressada. Não demorou até que o rapaz da agência a achasse e esboçasse um sorriso lindo quando a visse. Ali nasceu um olhar. Ela esperou só mais uns minutinhos até que chegasse sua pulseira de acesso ao camarote. Enquanto isso, um "DJ" sacudia a noite dos seus companheiros de viagem e dos cerca de dezoito mil fãs. 'Vocês vão conhecer ele, não saiam daqui!' Foi a frase mais bela que ela jamais ouvira em toda a sua vida. O plural se referia aos outros 4 fãs que ajudaram a assessoria de imprensa tanto quanto ela. Coração aos pulos, comeram alguns chocolates do buffet do camarote e partiram rumo ao camarim. Já havia se enturmado com dois rapazes do grupo de 5, sempre foi melhor amiga do sexo oposto. Passaram pelos seguranças, com sua devida permissão e percorreram um corredor semi-iluminado atrás do palco. Foi um dos únicos dias em que ela viu pessoas sorrirem verdadeiramente por 'quase nada' o tempo todo. No camarim, cheio de repórteres, a vida acontecia e o mundo girava. Ela os conheceu sim e teve até um romance com o assessor que a ajudou a tal feito. Mas o que aconteceu no camarim e durante o show fica a cargo da imaginação de cada um.

(ou das lembranças de quem esteve lá)

* Clube composto por integrantes da bossa nova nos anos 40
** Rádio fictícia

3 comentários:

  1. preciso ler de novo para poder comentar...rss

    ResponderExcluir
  2. preciso ler de novo pra poder comentar... rsss

    ResponderExcluir
  3. aaah minha imaginação foi longe! hahaha que saudade que estava de novos texto! como sempre... muito bom!


    ps: :*

    ResponderExcluir

Obrigado pela visita, volte sempre!