domingo, 14 de novembro de 2010

do sufoco

Nossa, estranho a campainha tocando a essa hora. Se não fosse você, jamais teria atendido! E então, o que houve? Uma história? Ou uma estória? Claro, claro, deixe-me buscar café, preciso acordar. Sente-se, porfavor. Você já é de casa, não precisa fazer cerimônia! Essa é uma das minhas prediletas:

Queria casar com ela! Se possível, morar junto antes de casar. Havia perdido ela uma vez em sua juventude, em meados de 1998. Namoraram apenas 3 semanas, como pode? Mas tudo tem uma explicação sim: ela ia se mudar pra longe, ia atrás d'um sonho que ele não compartilhava. Pior: ia se mudar em pouco tempo. De que adiantava começar o namoro e deixar o tempo aumentar o apego pra quando da partida a dor ser maior? Mas ele também não queria ficar no vai-e-vem. Se fosse dizer a ela o real motivo de não querer mais estar ao seu lado, ela ia continuar ao seu lado. Ele só tinha uma coisa a fazer: ela deveria deixar de gostar dele! Santa coragem! Foi aí que ele começou a falhar. Não ligava mais, deixava de responder as mensagens e decidiu aproveitar o pouco tempo oficial pra não querer conhecer o pai dela. Não passou mais de 10 dias assim pra que ela tomasse o início da conversa. Até que acabaram indo cada um pro seu lado. Porém, amizade mais bonita não poderia existir. O problema foi como ele ficou se sentindo depois que ela foi embora, sabe? O sentimento de culpa por não ter feito dar certo foi tão grande que ele jamais conseguiu esquecer essa dívida com ela e, consequentemente, jamais a esqueceu, de fato. Ela dava um jeito de se comunicar com ele, via carta mesmo, daquelas que a gente bota no correio. Receber uma carta dela era tudo pra ele, e toda vez que sabia que ela ia passar pela cidade, o coração ficava aos pulos! No natal ela sempre vinha antes do dia 24 de Dezembro. Só que pra ele visita no natal acontecia assim que sabia a hora exata do desembarque dela, mesmo que o natal não fosse naquele dia e que o desembarque fosse daqui a seis meses. Esperava por ela como nunca tinha esperado por ninguém. E o mais interessante, deveras, era que ambos podiam se relacionar com outras pessoas, porque era como se, no fim, eles fossem ter o tempo que não tiveram outrora, pra fazer valer tudo o que um havia prometido ao outro e que não puderam cumprir.

sábado, 23 de outubro de 2010

da história pequena

- Gosta de mim?
- Gosto sim.
- E por que não me liga nem liga pra mim?
- As coisas que não existem são mais bonitas.

sábado, 16 de outubro de 2010

do coração sem sala

Não, não. Não foi bem desse jeito que ocorreu. Era de uma vida bagunçada, como aqueles quartos que cada um tem e que é uma bagunça, mas sabemos exatamente onde cada coisa se encontra. Difícil mesmo é querer encontrar, organizar e botar pra fora o que não serve mais. Mas era de uma beleza tão natural que chegava a inspirar paz. Não paz de guerra, mas paz de espírito. Tinha a pele alva como nuvem e um sorriso que se entregava a qualquer bobagem que ele dizia. Começaram a discutir problemas leves e coisas da vida. De fato, era como se um estivesse começando a consertar a vida do outro, começando por coisas pequeeeeenas, como um problema no computador ou uma dúvida de matéria escolar. Mas se falavam apenas de vez em quando, quando a vontade de alimentar alguma coisa que morava dentro de cada um falava mais alto do que a vontade de ficar quietinho pra não se machucar. A vontade de ficar quietinho era mais a cara dela. Ali dentro havia um lar muito bagunçado, que impedia o vento de trazer boas notícias por muitas vezes. Mas carregava no olhar uma incrível vontade de ser feliz! De todas as vontades que ela tinha - fato - essa era a que mais queria tomar conta de todo o resto, pra poder converter passado em presente e o próprio presente num presente que ela dava a si mesma. Só que às vezes vinha uma vontade do medo da ilusão que ferrava com tudo. Sorte que o tamanho só influenciava na estatura, porque por dentro ela era gigante.
Ele era daqueles que já tinha tido muitas vontades: vontade do mar, vontade do nada, vontade de tudo, vontade do vento... Tinha mesmo um histórico meio perturbado por conta dessas vontades. Já tinha transformado coração em lar de uma forma incrível, e dos mais aconchegantes. Só que sempre vinha alguém e saía sem fechar a porta, deixando o vento frio do inverno invadir a casa e tornar o ambiente triste. Só que a vontade do tempo transformou a vontade do medo em várias vontades novas. Porém, de todas elas, a vontade que ele tinha agora que mais vinha à tona era uma vontade dela.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

do nada

...e descobriu o xampu que tinha o cheiro dos cabelos dela. Não que ele quisesse encontrá-la novamente, até porque na vida dele talvez nem houvesse mais espaço pra ela. Eles eram daquelas amizades floridas, onde um conforta o outro como cobertor em noite de inverno. Mas ele era muito temperamental, meu Deus! Na verdade, temperamento era qualidade. O defeito era a tempestade que ele trazia no olhar toda vez que não gostava de algo. Claro que ela, por mais que gostasse dele, não ia suportar ver seu barco naufragar toda vez que o mar de olhos verdes resolvesse lançar sobre ele algumas nuvens cinzas, sons de trovoadas e ondas de não-flores. Chega uma hora que todo mundo cansa, não é, meu jovem? Acho até que você está cansado de ficar sempre na mesma posição ouvindo-me. Vou abrir a janela pra que o vento faça seu mensageiro funcionar. Pra evitar o tédio refiz a estrutura da poltrona pra que ela se incline. Assim está bom? Ótimo! Mas não vale dormir enquanto eu falo. Como já é tarde no tempo do seu mundo, vamos logo começar a história do coração sem sala. Foi assim...

sábado, 4 de setembro de 2010

do menino que voava (mini-parte I)

Era interessante ver como ela se comportava quando ele estava por perto: quase sólido o não-movimento da sua boca. Era de uma intriga inefável, de um gorjear audível no mais profundo silêncio da alma. Mas ela queria ele que não queria ela, era quase como se um descompletasse o outro. Entretanto, como todo começo, tudo começou de uma forma inesperada. Eles trocaram olhares numa noite fodida qualquer em um bar de quinta categoria. Foi quase que automático. As sextas-feiras na cidade em que viviam eram tediosas. O máximo era quando ocorria uma festa ou algo parecido, caso contrário, teria sempre um ou dois botecos para salvar a noite. Ele pediu gym seco naquele dia. Nunca tinha tomado gym, até descobrir que tinha cheiro de perfume. Ela gostava de bebidas quentes e rápidas, então pediu uma tequila. Ela, bonita em sua pele alva, bebia sozinha. Não um beber conjugado por qualquer pessoa que pede algo com álcool, mas um beber desesperado, como que quem bebe para afogar não as mágoas, mas a alma.

- Traga uma tequila também!
- Mas você não já está bebendo gym?
- E você não já está bebendo tequila?
- Zoé.
- João. E então, o porque da bebida solitária?
- Uma garota não pode sair e tomar uma sozinha?
- Não, porque sempre vai ter um cara também sozinho que vai pedir a mesma bebida que ela pra puxar assunto, mesmo que ele já esteja bebendo outra coisa.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

deles

E foi assim que aquele 17 de Dezembro se findou pra sempre na memória. Engraçado, não?
A vida passa por nós de uma forma que nem percebemos. Lembro que uma vez uma certa menina apareceu na minha vida. Eu era jovem ainda, devia ter meus vinte anos, na flor da idade! Ela era daquelas belezas simples, sabe? Pele cor de neve, boca delineadamente fina, cabelos bem cuidados e de um abraço que dizia 'você está em casa agora'. Não era muito alta, claro. Mulheres altas nunca me chamaram a atenção. Mas também ser tão baixa não vale! Era inteligente, sim. Só não se esforçava muito na hora certa. Deixava as coisas irem acontecendo e levando e só parava pra se importar mesmo quando era a última chance que tinha. Ela gostava muito do silêncio. O silêncio, para ela, era como se fosse sua cápsula protetora, o local não-geográfico onde ela se encontrava em seu mais ínfimo momento-de-si. Ela curtia estrelas e tinha uma peculiaridade ímpar: não fumava, mas adorava cheirar cigarros. Não 'cigarros', cigarros mesmo, daqueles que você compra em qualquer mercadinho de esquina. Seu olho era bem escondido pela distância pequeníssima entre suas pálpebras e, quando ria, sumiam mais ainda. A forma como ela andava era uma forma preocupada, uma forma de quem tem algo inquieto dentro de si, como uma vontade de sumir do mapa ou o desejo da necessidade de ser feliz. Quando andava, lembro bem, colocava uma cara de menina marrenta fechando os olhos, franzindo levemente o cenho e um semi-bico de quem diz 'vai encarar?'. Era até engraçado. Lembro que eu costumava rir por isso. Tinha poucas amigas e amigos, os quais prezava bastante. Entretanto, não tinha o costume de desfrutar totalmente dessas amizades: quando estava mau por algum motivo preferia se isolar do mundo. Ficar no seu cantinho esperando a tempestade passar. Sua maior dor, talvez, era não lutar contra o que lhe fazia mau ou não lutar de verdade pelo que ela queria. Tinha muitas cicatrizes, como qualquer um. Às vezes eu achava que a entendia, mas eu não entendia era nada. Nunca mais tive notícias dela, nunca mais mesmo. Melhor pra nós dois foi ter se afastado naquela época, era perigoso demais se ficássemos perto um do outro. De qualquer forma, com o rompimento, ela me apareceu em sonho algumas vezes e ainda procurei seguir seus passos sem que ela soubesse, mas nem deu certo. A vida obriga a gente a seguir de vez em quando e... Meu Deus, estou falando da minha vida pessoal! Droga, desculpe, desculpe, desculpe, vamos voltar ao livro!


"- Mas tu num pode se entregar assim não, criatura!
- E que que vou fazer eu se o afeto que eu tenho guardado por tu é maior e mais insistente até mesmo que o tal do Lampião quando quer as coisa?
- Tu deixa esse negócio de lado, ora! A gente já tentou que só a gota e não deu certo, só fizemos foi ficar se lamuriando.
- Mas num deu certo porque teu coração que não te deixa amar, Conceição!
- Num é isso, João. A gente tem 19 anos nas costa, dois junto e já discutimos isso por demais. Eu já disse que você sempre cobrou muito de mim, ora! Eu num posso te dar mais nem menos do que tu espera não. O amor que eu tenho pra dar é esse, não é bom nem é ruim, é esse. Por tudo que é mais sagrado, entenda! Agora o que num dá é ficar nesse vai-e-vem da mulexta, eu não aguento mais.
- Mas entenda meu lado também. Tu num entende não, né? Depois que ficamo estranho um com o outro tudo mudou. O que era primavera virou verão, Conceição. E esse verão é inconstante desde que tu resolveu me deixar. Mais parece um carnaval... - nessa hora, seu olho lacrimejou - ... a gente passa um ano sem se ver mas quando se encontra é como se um zilhão de alegorias coloridas vibrassem aqui dentro procurando ser campeã de alguma coisa. Tu devia saber que essa coisa que eu quero conquistar é esse teu coração, ora!"

terça-feira, 10 de agosto de 2010

17 de Dezembro

Ai, ai. É muito bom receber visitas. Tem dias em que o dia não quer dormir. Nessas horas bate um cansaço enorme, um cansaço que leva o corpo e a alma. Eu decidi falar um pouco de mim agora. De mim mesmo, sabe? Depois prometo que te deixo falar de ti. Deixa eu, apenas um pouco, pôr esses livros em cima da mesa e começar a folhear palavras minhas, deixa? Agora vou falar da minha infância. Adoro-a! Acho que tive infância mesmo, daquelas de se lembrar pro resto da vida. Vou falar um pouco da infância e da descoberta do amor, certo?

"Ah, jamais hei de esquecer aquele 17 de Dezembro!
Essas datas perto do Natal sempre marcam, especialmente se estiverem perto do dia 25.
Lembro que minha família se preparava para viajar, e que lá na outra cidade, tudo estava tranquilo e bonito. Nos reuniríamos na casa da minha avó, como de costume, e cantaríamos ao som do violão do meu tio até 4 horas da manhã, lembrando do meu falescido avô.
Nesse dia, que caiu num sábado, o céu havia amanhecido claro-cinza, e tudo estava indo bem até demais. Havia passado no colégio sem mais preocupações [fora algumas recuperações, claro], o Natal com minha avó seria muito bom e o mar, ah, o mar que eu iria ver em breve me fazia lembrar dos meus momentos de paz.
O computador que meu pai havia comprado recentemente era bom, sim. Tinha até internet!
Pra um garoto de 15 anos, até que eu tinha uma vida legal. As coisas naquele ano de 1994 eram bem diferentes do que são hoje. Não tínhamos todas essas regalias que os jovens de hoje tem. Namorar? Só depois que toda a família de ambas as partes fossem conhecidas, e esse negócio de ir passar Natal fora era coisa de gente rica. Minha mãe trabalhava no comércio da cidade velha, num escritório de contas. Papai era vendedor, por isso não tinha um salário fixo. Dessa forma, era um mérito pra gente poder ir sem preocupações pra outra cidade. Tudo bem que o meu colégio devia estar atrasado uns 4 meses, mas dava pra fazer um esforço pra pagar em Janeiro, quando mamãe fosse receber o décimo terceiro salário.
Foi justamente no ano de 1994 que nos mudamos pra cá. A cidade é boa, tem pessoas legais, mas às vezes é muito pacata. Essa gente do interior é estranha. Tenho vagas lembranças de como minha mãe conheceu meu pai. Salvo engano foi num bar da cidade grande, um tal de 'Travessia', que era o bar do momento naquela época. Meu pai, que sempre foi festivo e estava morando com amigos numa casa alugada, vivia saindo pra esses cantos. Segundo ele, ele era o 'gatão' das festas. Mas o tempo vai passando, e percebemos que as coisas mudam. Vem tecnologia, vem e vão presidentes, desastres catástrofes, ah, várias coisas. Mas não quero me demorar a contar essa estória.
A internet naquela época estava começando a surgir, não tínhamos muitas opções de comunicação. No meu colégio, que eu não tinha ido antes por pensar que era caro demais, havia sido criada uma sala de bate papo num site para que as pessoas de cada sala pudessem se comunicar. Tudo começou no meio do ano, em Junho mais ou menos, quando ela me adicionou no que hoje chamamos de 'Perfil do Usuário' da comunidade online do colégio. Tudo aquilo era uma inovação, claro, nunca imaginávamos, em 1990, por exemplo, termos acesso a outras pessoas do outro lado da cidade pelo computador. O próprio Bill Gates, alguns anos antes, afirmou que não precisaríamos de um chip com mais de 128kb para processar nossas informações. Enfim, voltando ao principal, ela adicionou o meu Perfil da comunidade como um de seus contatos. O tempo foi passando e eu, ocupado com muitas outras coisas, não dava a mínima pra esse negócio via internet. Até que um dia, me vi sem nada pra fazer e liguei o computador [que, por sinal, ainda era um daqueles que faziam um 'beep' quando se apertava o botão de ligar]. Passei um tempo lendo as notícias dos novíssimos jornais 'online' e depois dediquei parte do meu tempo à comunidade do colégio. Então, vi o perfil dela. Tinha algo estranho escrito na informação 'cidade'. Algo sobre duas árvores, não lembro direito, mas isso me chamou a atenção. Então comecei a puxar assunto com ela, via internet mesmo. Era uma pessoa bacana, tinha um papo legal, e só depois eu vim perceber que ela era aquela garota que havia engessado o pé e tinha de ser carregada pelo porteiro nos braços até o primeiro andar por não poder subir as escadas. Eu morria de rir com aquilo!
Após uns dois meses do meu comentário 'ei, gostei do que tem escrito lá' ela veio conversar comigo. Interessante que o nome dela começava com a mesma letra do meu e que nossos aniversários eram no mesmo mês, diferente apenas em alguns dias. Nos tornamos bons amigos, de fato. Conversávamos sobre os dramas familiares, sobre o que tava acontecendo no mundo, até sobre música, que eu estava começando a apreciar um pouco mais. Já dizíamos 'eu te amo' antes de nos despedirmos, e dávamos abraços contagiantes no colégio, com direito a algumas conversas rápidas, mas tão maravilhosas! Foi então que se aproximava o dia que intitula esse conto. Era última semana de prova, lembro. Havia ficado em sete recuperações nesse bimestre, o que me tirou totalmente o tempo pra lazer. Ao término da semana, dei um suspiro de alívio tão grande que acho que minha mãe, que estava tomando banho quando eu cheguei, deve ter ouvido. Joguei a bolsa na cama e fui pro computador. E lá estava ela, toda linda, com uma rosa à frente do nome. Me convidou pra sair à noite, o irmão dela iria se apresentar num espetáculo de Natal. Eu já havia combinado com uma amiga minha para ir também, mas disse que aparecia por lá.
Passei o resto do dia descansando, quando só às 18 horas comecei a me aprontar. Coloquei um perfume bom, e minha melhor combinação de roupas. Acho que foi o banho mais demorado do ano. Cheguei na casa da minha amiga atrasado, e fizemos um rápido cooper até o local da apresentação, que era bem próximo à casa dela. As arquibancadas estavam todas postas de modo a formar um retângulo ao redor do palco circular, parecido com os velhos teatros gregos. Subimos, eu e minha amiga, à arquibancada mais alta. O espetáculo ainda ia começar, quando avistamos o pessoal que estudava lá no colégio sentados em cadeiras à frente da arquibancada que ficava do outro lado do diâmetro do palco, exatamente de frente para nós. Acenamos e eles retribuíram. Aquelas pessoas ao lado dela eram da família, reconheci pela idade de alguns e carinhos com outros. O espetáculo foi bom, e no meio do mesmo, uma garotinha de uns 6 anos vestida de anjo chegou para me oferecer uma rosa de papel crepon. 'É pra ajudar os meninos carentes, moço' disse ela. Não resisti e comprei. Rapidamente pensei 'porque não oferecer a rosa a ela?' mas como diabos eu ia fazer isso, eu não sabia. Perguntei à minha amiga e ela foi simples na resposta 'chega lá e entrega'. Mas só de pensar que um daqueles caras lá podia ser o pai dela, minhas pernas tremiam todas. Foi quando a vi levantando com a avó e saindo do espaço delimitado pelas arquibancadas. Iam a caminho do banheiro, que por sinal ficava atrás da arquibancada em que eu estava. De repente, me vi descendo as escadas ao som de algumas músicas natalinas, e indo pelo caminho que dava a volta na arquibancada paralela, de forma a seguir o mesmo caminho que elas, que já estavam voltando. Meu rosto corou e esquentou, enquanto a avó dela olhava pra mim e tentava entender direito se tinha ouvido um 'é pra você' e visto minha mão erguida com a rosa rosa azul de papel crepon implorando pra ser pega. Ela pegou, com um sorriso bobo no rosto, e me apresentou a avó dela. Ela me chamou pra sentar do lado dela, mas não poderia fazer isso. Não sem antes chamar minha amiga, que deveria estar morrendo de rir da minha cara lá de cima, observando tudo. Fui lá então, e chamei-a pra me acompanhar. Descemos e fomos nos sentar perto do resto do pessoal. Sentei ao lado dela! A olhei por uns instantes e dei-lhe um beijo rápido na bochecha. O tempo passou tão rápido depois disso que logo me vi em casa. Perto dela eu me senti em casa."

terça-feira, 27 de julho de 2010

casinho

Se estiver incômodo na poltrona, pode falar. Mas voltemos ao outro tópico, já é mais de uma hora da madrugada e as palavras fluem melhor depois que o mundo se cala. É claro que sempre as pessoas vão sair e entrar na sua vida, deixando marcas inimagináveis! Imagine como se ambas fossem um pedaço de papel. Se colados, quando se separam sempre fica um pouquinho de cada no outro. É quase uma sentença de morte, não acha? Deixar-se colar dessa forma com uma pessoa que às vezes você nem conhece na íntegra e, então, entregar parte de seu espírito a ela. É uma atitude bonita até. Mas isso é um assunto muito discutido e eu odeio conversar sobre coisas normais. Claro, claro, pode inclinar melhor a poltrona. Era do meu avô, ele gostava muito dela. Está mais frio do que antes, portanto trate logo de abrir esse cobertor e se agasalhar!
O engraçado é que as pessoas sempre se deixam marcar. Bem, vou contar uma historieta agora. Tenho-a decorada apenas, desconsidere qualquer erro de roteiro. Lá vai:

A estranha borboleta que tinha aparecido agora pousava na pétala do roseiral que ficava na varanda. O céu estava estrelado e ventava levemente. O cheiro da brisa do mar havia ficado mais forte por conta do aumento da maré. Era lua cheia. A borboleta voava aparentemente sem destino. A rua estava movimentada, era noite de sábado. A prostitutas na esquina paravam os carros com suas pernas nuas, os quiosques da praia estavam cheios e alguns casais namoravam à grande luz da lua. Um vendedor passava anunciando o preço dos côcos enquanto a polícia fazia sua ronda rotineira. Quem passasse por aquela rua poderia ver o menino na varanda, observando toda a cena. A casa era uma das maiores da vizinhança, e a varanda ficava um pouco acima da cerca elétrica, que encobria os velhos muros de pedra que davam um ar de castelo à fachada da casa. Ele chorava. Observou a borboleta por algum tempo, suas asas calmas que mais lhe pareciam um rosto lhe fitando, olho-no-olho. Asas douradas. Muito diferentes para as borboletas - ou mariposas - com que ele estava acostumado. Normalmente, ainda mais nessa época do ano, as 'borboletas' que ele via eram raquíticas e pequenas, daquelas comuns em campos abertos. Não havia ninguém em casa. Seus pais haviam viajado. Filho único, tinha poucos amigos, daqueles de universidade que se acha perdidos por aí. O vento secou a água do seu rosto, deixando apenas duas linhas de sal, como que duas tatuagens quase imperceptíveis, não fosse o cheiro do seu sal se misturando com o cheiro de todo o sal do oceano. Nem ele sabia porque chorava tanto. Seus olhos castanhos agora estavam vermelhos, como o mar quando fica com raiva. As cortinas atrás de si balançavam a poeira do seu quarto sujo e faziam sombras como vultos. Regrediu e fechou as janelas, trancando o mundo do lado de fora, sem querer saber dos casais, do homem do côco, da polícia, dos quiosques, das prostitutas... Não sentia fome havia dois dias, apenas bebia água e comia uma ou duas frutas ao correr das longas 24 horas que agora lhe apareciam. Nunca havia parado para pensar quão longo é um dia, ou quanto tempo se perde não vivendo. A angústia já nem lhe tocava tão forte, sua mãe chegaria no dia seguinte e tudo estaria bem, completo. Era sua melhor amiga, sempre o fora. O cansaço de um dia de cicatrizes agora batia forte. Não estava com saco nem para ir no BOB's tomar seu ovomaltine de todo sábado. Ao som de 'Down em mim', do barão vermelho, ele deitou e dormiu...

domingo, 25 de julho de 2010

bem vindos, podem se sentar

Faz tempo que meu tempo esqueceu que eu tenho muito tempo pra escrever. Particularmente, gosto bastante de escrever, por mais que não o faça com muita destreza. É interessante reservar um espaço único para crônicas e afins, mesmo sabendo que eu não vou tê-las publicadas em grandes jornais ou ter muitas visualizações. O Poemas de Inverno, meu blog mais ativo, tá com exatas 1500 visualizações. Esse daqui vai ficar só pra coisas pessoais: ensaios, coisas da alma, reflexões e outras tantas coisas emo que temos por aí. Tentarei deixá-las menos emo. Juntarei coisas de outros blogs meus que agora estão offline e zipá-los por aqui. Boa leitura.

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Antes de mais nada, vamos entrar, não é? Como você está vendado, deixe-me apresentar a casa. Não, não se mova, pode ficar parado aí mesmo. Deixe-me só fechar a porta. Volto em exatos 4 passos. Pronto, podemos prosseguir. Você gosta de cores? Eu adoro cores. A cor da casa é violeta. Decorei-a com violeta e marrom porque queria um ambiente bem aconchegante. Apesar de cores mortas, eu gosto delas. O som que você ouve agora é o som do mensageiro do vento pendurado no humilde lustre da sala. Mas não se deixe enganar pela beleza da palavra 'lustre', é humilde mesmo, é um lustre à luz de velas. Existem exatamente 7 velas acesas agora, afinal é noite, caso você não lembre. Existem, abaixo do portador das velas, duas poltronas no estilo 'vovô'. Uma amarelo queimado e outra marrom. Um centro redondo de madeira, bastante antigo, separa elas duas. Em cima do centro, apenas uma caneca de porcelana branca com resquícios do chá de canela da noite passada. Gosto de chá de canela, sabe? É um vício necessário. Comecei o vício depois de um poeminha de uma situação inusitada. A cadeira marrom fica do lado esquerdo, o centro no centro e a poltrona amarela do lado direito. Logo atrás desta tem uma entrada para a cozinha, que não nos interessa agora. Atrás da poltrona marrom tem a passagem para o corredor, que leva aos quartos e à biblioteca, bem como ao banheiro, que também não nos interessa agora. Abaixo do centro tem um tapete vinho com decorações beges-não-tão-beges. O piso do chão é um marrom queimado também. Sou bem unicolor às vezes. Agora, em 5 passos médios, chegaremos às poltronas. Vamos? Isso, isso, agora vire-se um pouco para a direita e sente-se. Pode se sentir à vontade, tire esses sapatos, deixe-me guardar essa bolsa. Melhor assim? Engraçado, faz tempo que não recebo visitas. Não se importe com a chuva lá fora, a casa é bem protegida contra inundações. Apenas curta o clima chuvoso e frio à luz de velas. Jajá a moça que cuida da casa trará um chá e alguns biscoitos, tudo bem? Para o caso do frio começar a ser muito pedante, ao seu lado esquerdo tem um cobertor xadrez em três cores: vermelho, branco e preto. Os quadrados são grandes, do tipo dez por dez. Desculpe, tenho a mania feia de ser detalhista. Acho que agora podemos conversar um pouco. Mas, antes, vamos estabelecer uma coisa: a partir de agora eu conto as histórias e você as ouve. Se você pudesse ver, imagine que eu seria as palavras e você o leitor, certo? Bem, vamos conversar.

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O cobertor.