sábado, 23 de outubro de 2010

da história pequena

- Gosta de mim?
- Gosto sim.
- E por que não me liga nem liga pra mim?
- As coisas que não existem são mais bonitas.

sábado, 16 de outubro de 2010

do coração sem sala

Não, não. Não foi bem desse jeito que ocorreu. Era de uma vida bagunçada, como aqueles quartos que cada um tem e que é uma bagunça, mas sabemos exatamente onde cada coisa se encontra. Difícil mesmo é querer encontrar, organizar e botar pra fora o que não serve mais. Mas era de uma beleza tão natural que chegava a inspirar paz. Não paz de guerra, mas paz de espírito. Tinha a pele alva como nuvem e um sorriso que se entregava a qualquer bobagem que ele dizia. Começaram a discutir problemas leves e coisas da vida. De fato, era como se um estivesse começando a consertar a vida do outro, começando por coisas pequeeeeenas, como um problema no computador ou uma dúvida de matéria escolar. Mas se falavam apenas de vez em quando, quando a vontade de alimentar alguma coisa que morava dentro de cada um falava mais alto do que a vontade de ficar quietinho pra não se machucar. A vontade de ficar quietinho era mais a cara dela. Ali dentro havia um lar muito bagunçado, que impedia o vento de trazer boas notícias por muitas vezes. Mas carregava no olhar uma incrível vontade de ser feliz! De todas as vontades que ela tinha - fato - essa era a que mais queria tomar conta de todo o resto, pra poder converter passado em presente e o próprio presente num presente que ela dava a si mesma. Só que às vezes vinha uma vontade do medo da ilusão que ferrava com tudo. Sorte que o tamanho só influenciava na estatura, porque por dentro ela era gigante.
Ele era daqueles que já tinha tido muitas vontades: vontade do mar, vontade do nada, vontade de tudo, vontade do vento... Tinha mesmo um histórico meio perturbado por conta dessas vontades. Já tinha transformado coração em lar de uma forma incrível, e dos mais aconchegantes. Só que sempre vinha alguém e saía sem fechar a porta, deixando o vento frio do inverno invadir a casa e tornar o ambiente triste. Só que a vontade do tempo transformou a vontade do medo em várias vontades novas. Porém, de todas elas, a vontade que ele tinha agora que mais vinha à tona era uma vontade dela.